segunda-feira, 29 de março de 2010

Campanha alerta para uso racional da água

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Casa Liquida ambiente cenográfico com elementos do dia a dia indicando o consumo de água para a produção de cada item
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Sandro Bassili é diretor de sustentabilidade da Ambev, responsável pela campanha
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Daniel Munduruku afirma que é preciso vivenciar a fraternidade com a natureza


Um movimento nacional pretende dar visibilidade às questões relacionadas à nossa incolor e essencial água

A cada ano, no Dia Mundial da Água, são lançados questionamentos sobre a situação, perspectivas e possíveis ações para que nós, seres humanos, continuemos a habitar este imenso planeta azul. E você? Está preocupado com a possibilidade de faltar água em sua torneira? Sabe que há quem passe restrições severíssimas desse precioso e essencial líquido?

Sabemos que a Terra detém 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água, mas sabemos também que 97,5% desse total está nos oceanos e que a 2,5% é doce concentrada nas regiões polares, restando, portanto, apenas 0,7% de água doce no subsolo e ínfimos 0,007% em rios e lagos superficiais.

Pois, mesmo com essa restrição, o consumo de água cresceu em mais de duas vezes a taxa de crescimento populacional no último século e, nesse ritmo, em 2025, 1,8 bilhão de pessoas viverão em regiões com escassez absoluta de água, de acordo com e o United Nations Water (UN Water) e United Nations Environment Programme (Unep) - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Grandes empresas no mundo inteiro têm demonstrado uma preocupação crescente com essa realidade, como é o caso da indústria de bebidas.Tanto que, na última segunda-feira, muita gente se surpreendeu ao acessar os principais sites noticiosos do País, o Twitter ou mesmo comprar algum dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, que foram tingidos de azul por uma campanha lançada pela Ambev.

A campanha partiu do pressuposto de que, apesar de estar presente em nossas vidas, além de incolor, esse bem se tornou invisível e de que há uma necessidade real de fazer com que as pessoas voltem a vê-la. "Mas como representar visualmente algo que não tem cor?", questiona Sandro Bassili, diretor de sustentabilidade da empresa. A resposta foi buscada na Grécia antiga, onde um nome foi escolhido para simbolizar a água em sua essência; cyan. Surgiu, então, o Movimento CYAN - "quem vê água enxerga seu valor", lançado na noite da última segunda-feira.

A ideia é convidar setor produtivo, governos, terceiro setor, cidadãos a se mobilizar pela causa da água. Por sua parte, a Ambev estabeleceu parcerias, criou uma campanha publicitária de grande impacto, iniciou um projeto de proteção de nascentes e está mobilizando comunidades na Bacia do Paranoá (DF). Um dos carros-chefes do CYAN é o Movimento Menos 1 L (www.movimentocyan.com.br), uma ação colaborativa on line permanente onde qualquer um pode dar dicas de como utilizar água de forma sustentável.

* A repórter viajou a convite da Ambev.

USO RACIONAL
Ações protegem um bem comum
Com o movimento, a Ambev pretende popularizar o conceito de "pegada hídrica", indicador criado pela ONG holandesa Water Footprint Network (WFN), que calcula o consumo de água direto e indireto de um indivíduo, empresa ou comunidade, tomando por base o volume de água limpa utilizado na cadeia de produção de tudo o que é consumido em bens ou serviços, ou seja, mensura o impacto do consumo sobre a quantidade de água disponível no planeta.

Em 2009, a companhia conseguiu economizar o uso de água para a produção de bebidas: utilizou, em média, 3,9 litros por litro de cerveja ou refrigerante, ante 4,11 litros em 2008, 5,1% a menos. Em 2010, a companhia vai investir R$ 44 milhões em todos seus programas na área de Sustentabilidade.

Em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos e a WFN, a empresa vai calcular o consumo de água em toda a sua cadeia produtiva - do plantio da cevada até o ponto de venda. "Atingimos um índice nas fábricas que é benchmarking mundial para a produção de bebidas e precisamos buscar junto aos fornecedores e parceiros comerciais novas maneiras de poupar água", afirma o diretor de sustentabilidade, Sandro Bassili.

No programa "Água para a Vida - Conservação e Gestão de Água Doce", em conjunto com a ONG WWF, a companhia vai adotar bacias hidrográficas que servem às suas fábricas para desenvolver estudos sobre melhor aproveitamento da água pelas indústrias e pela comunidade local, além de contribuir com recursos financeiros para a sua preservação. A iniciativa começa na Bacia do Corumbá-Paranoá, que abastece a Filial Gama, em Brasília (DF). A intenção é ampliar o projeto para outras bacias hidrográficas pelo País. A empresa está presente no Ceará desde 1988.

MENSAGEM INDÍGENA
"Não dono, mas participante"
"O povo indígena se sente pertencente ao universo não como dono, mas como quem participa". Assim Daniel Munduruku começou a falar no lançamento do Movimento CYAN, no Porão das Artes, Ibirapuera, São Paulo, na noite de segunda-feira passada.

Formado em Filosofia e licenciado em História e Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), Daniel é índio da nação tupu munduruku, cresceu na aldeia, nos arredores de Belém (PA) e é autor de vários livros sobre a cultura indígena. Ele contou sobre o dia em que seu avô, ao ver-lhe com vergonha de ser índio, lhe pediu que parasse e escutasse o que o Rio Tapajós tinha a lhe dizer. Sem saber que rio falava, nada ouviu. Então, o avô fez um discurso sobre o constante fluir do rio, que, se não seguir o caminho, nunca desaguará no grande rio.

"É comum o índio chamar a terra de avó. Quando algo foge à nossa compreensão, conversamos com nossos avós através de rituais. Nossos rituais são muito pouco compreendidos. O branco acha que índio vive dançando, cantando e se balançando na rede. Ficamos o tempo todo dando sentido a nossa presença no mundo. Nossa relação com a natureza não é de superioridade. Parente cuida do parente. É preciso vivenciar essa nossa fraternidade com a natureza senão vamos viver jogando palavras ao vento. Sou feliz de pertencer a um povo que fala pouco, mas vive intensamente essa realidade", declarou.

Entre outros, participaram do evento, o economista Ladislau Dowbor; a ambientalista Marcia Brewster, consultora sênior da Nautilus International, empresa especializada em revitalizar frentes marítimas urbanas; Samuel Barreto, coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil; Vanete Almeida, coordenadora da Rede Latino-Americana e do Caribe das Mulheres Trabalhadoras Rurais.

Vertentes do Cyan
Tecnologia: como pode ajudar a distribuir melhor a água, evitar a poluição dos mananciais e dessalinizá-la para consumo.

Geo-política: as fronteiras dos países são muitas vezes marcadas pela água dos rios. A água tem o poder de promover tanto a guerra quanto a comunicação entre os povos.

Água e alimento: a água está diretamente relacionada ao ciclo de produção dos alimentos e a agricultura tem um papel decisivo no consumo da água doce do planeta.

Mudanças climáticas: as mudanças climáticas interferem diretamente nas reservas de água doce disponíveis.

Espiritualidade e prazer: a vida começa na água. É um elemento mítico muito forte. Não existe ritual de vida sem água, o elemento está presente nas questões relacionadas à estética, ao prazer e aos rituais de praticamente todas as comunidades, filosofias e culturas do planeta.

Energia: boa parte da energia utilizada pelos grandes aglomerados urbanos vem da água.

MARISTELA CRISPIMREPÓRTER

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