João Pedro Schonarth/Especial para o JE
Museu de Arte Indígena vai ser inaugurado em Clevelândia em novembro e é o primeiro do estado a destinar este espaço à cultura indígena
Museu de Arte Indígena vai ser inaugurado em Clevelândia em novembro e é o primeiro do estado a destinar este espaço à cultura indígena
O acervo de mais de 500 peças revela um lado do Brasil desconhecido por muitos brasileiros: a arte plumária das mais diversas tribos indígenas, artesanato, como cerâmica e máscaras (foto: Divulgação)
Em suas inúmeras viagens pelos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Julianna decidiu sair do convencional: quis conhecer tribos indígenas e tudo o que era produzido por elas. “Eu fui aos poucos comprando alguns materiais e isso foi se tornando uma paixão. Aos poucos, fui sendo convidada para expor meu material em outras cidades e percebi que o que tinha era de um grande valor”, explica a pesquisadora, que mora em Clevelândia. “Recebi convites para deixar as peças em museus dos Estados Unidos, da França e do Uruguai. Resolvi fazer o contrário: comprei uma casa na cidade e criei a fundação do MAI”, conta.
O Museu de Arte Indígena será inaugurado no dia 14 de novembro e já cria uma expectativa muito grande para a área cultural do sudoeste paranaense. “O museu se torna um ponto de transformação cultural na cidade e pode contagiar todo o entorno, desenvolvendo o turismo voltado a esta área em toda a região”, ressalta.
O acervo de mais de 500 peças revela um lado do Brasil desconhecido por muitos brasileiros: a arte plumária das mais diversas tribos indígenas, artesanato, como cerâmica e máscaras. “São povos que têm sua importância para a formação da cultura brasileira e ainda é vista como uma coisa maior”, explica a especialista em museus e curadora do MAI, Ana Itália. Dentre as tribos representadas no acervo, encontram-se as paranaenses Kaingangue e Guarani.
A proposta do Museu de Arte Indígena é resgatar mais do que a cultura indígena: é expor a raiz brasileira em forma de exposição. “Temos que valorizar o que é nosso e o índio é o gênesis do brasileiro. Temos que entender que a nossa identidade cultural é mais importante para a nossa formação do que copiar músicas e arte que vem de fora”, lembra Julianna. “É um universo totalmente não descoberto que está em exposição”, acrescenta.
Democratização — Muitas pessoas perguntam à Julianna o porquê de deixar um acervo tão valioso em uma cidade de menos de 20 mil habitantes e não em um grande museu de uma capital. A resposta para a pergunta é simples: “O interior não tem quase nada, precisamos deixar de olhar para o eixo Rio-São Paulo e começar a dar importância ao que acontece no interior”.
Para a curadora do MAI, Ana Itália, mais do que levar museus com obras importantes para as cidades do interior, o ideal seria que cada cidade tivesse o seu próprio espaço. “Um museu resgata a história de cada lugar e permite resguardar às futuras gerações ter acesso ao seu passado”, explica Ana.
A especialista questiona ainda o mito de que museus são de difícil acessibilidade para pessoas que não são necessariamente críticos de arte. “Mesmo que você não entenda o que está ali exposto, a arte te pega, você cria uma consciência crítica. Você não sai igual”, ressalta.
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